Os novos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que o envelhecimento da população brasileira acelerou e 22,2 milhões estão na faixa dos 65 anos ou mais. O número representa 10,9% do total de habitantes do país, quadro que pede uma atenção maior com esse público.

E para falar um pouco mais sobre o assunto, o programa Inclusive recebe Valmir Moratelli, Doutor em Comunicação pela PUC-RJ, Mestre também pela PUC-RJ e graduado em Jornalismo pela UFRJ. Desde 2021, Valmir é professor de Escrita Criativa na ESPM. Colunista da Revista Veja, já atuou em redações de alguns dos principais veículos de imprensa do país e em escritório de assessoria de imprensa. Membro do Grupo de Pesquisa “Narrativas da vida moderna na cultura midiática – dos folhetins às séries audiovisuais” (PPGCOM da PUC-Rio) e do Grupo de Pesquisa “Ficção Seriada” (Intercom); e parecerista do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Para além dos estereótipos: a complexidade da velhice masculina

As complexidades do envelhecimento dos homens são tema central de A Invenção da Velhice Masculina, lançamento da Matrix Editora assinado pelo jornalista e Doutor em Comunicação Valmir Moratelli. Fruto de um extenso trabalho de pesquisa, o livro mergulha nas entranhas da representação dos idosos ao longo da História, desde as antigas civilizações até hoje.

De hieróglifos egípcios, passando por obras renascentistas e culminando com filmes e séries da era do streaming, o autor revela como a representação do homem idoso sempre esteve vinculada a definições mutáveis e contextualizadas, influenciadas por fatores culturais e sociais. Nesse sentido, Moratelli desafia a visão simplista da masculinidade idosa como um conceito unificado.

A obra discute como a estética da juventude se sobrepõe à diversidade de experiências dos mais velhos, especialmente na cultura audiovisual. O especialista revela como o cinema e a TV lidam com a representação da velhice masculina e, muitas vezes, contribuem para a construção de estereótipos que perpetuam a invisibilidade dessa população.

Entrevistas exclusivas com duas figuras icônicas da dramaturgia, Antônio Fagundes, 74 anos, e Antônio Pitanga, 84, evidenciam o papel fundamental da indústria do entretenimento na construção dessas imagens. Os atores falam abertamente sobre suas experiências de carreira, abordam a relação com a velhice e explicam de que maneiras a idade aparece hoje como limitador para a conquista de trabalhos e/ou papéis.

É assim que se perpetua a representação do idoso – o indivíduo que já não pode trabalhar, que já não pode namorar, que já não pode fazer sexo ou redescobrir sua sexualidade, que não pode tomar decisões sozinho, que não deve dar opinião em assuntos determinantes para um grupo, entre outros. A modernidade prega uma vida social na qual, como se explorou ao final do primeiro capítulo, o descarte é necessário. Jovem e velho não coexistem no mesmo espaço, não dialogam em graus semelhantes de hierarquia e, por fim, não contribuem para viver e construir uma sociedade melhor para ambos. O velho já não é dessa sociedade.

(A Invenção da Velhice Masculina, pág. 191)

Ao explorar as raízes históricas e sociopolíticas que sustentam discursos etaristas há muitos séculos, Moratelli desfaz a ilusão de uma masculinidade idosa estática. Ele introduz também o termo “afrovelhice”, um componente essencial no entendimento das múltiplas facetas da velhice dos homens, especialmente no contexto das desigualdades raciais. Com o termo, ele mostra como na etapa mais avançada de suas vidas, os negros, que tiveram negados os acessos às mesmas condições que os demais, não conseguem usufruir facilidades de bem-estar e acabam em situações ainda mais graves de vulnerabilidade. “A afrovelhice é caracterizada pelo aprofundamento de desigualdades enraizadas na sociedade brasileira”, explica. Moratelli também pesquisa sobre a representatividade de idosos na TV e no cinema e é enfático ao apontar que os idosos negros são mal representados com personagens sem contexto familiar e relevância nas tramas.

O livro convida os leitores para repensar as complexas camadas da masculinidade na terceira idade, e questiona narrativas preconceituosas e simplificadoras com o objetivo de propor um diálogo sobre uma velhice saudável e igualitária, causa que deveria ser cara para todos, uma vez que o envelhecimento é condição inerente ao ser humano.


O programa Inclusive é apresentado pela jornalista Rosa Buccino todas as segundas, às 13, com reapresentações as terças, às 11h, e às quartas, às 18h, na Rádio Mega Brasil Online.

O programa também é disponibilizado, simultaneamente com a exibição de estreia, no Spotify, e em imagens, na TV Mega Brasil.